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Em Bolinhas de Amor, são pintados alguns quadros, uns a preto e branco, outros a cores, da infância e adolescência de Marco Túlio Ferreira, reconhecido, embora não conhecido, escritor e académico português, entre meados dos anos 70 do século passado e o início da década seguinte, numa aldeia próxima de Braga. A relação do adolescente com a família, os vizinhos, a escola, os amigos e as amigas, e também com os seus inimigos ou adversários, é o principal foco destes quadros. As preocupações, os medos, os complexos próprios da adolescência, os reveses, os incidentes em que se envolve, os momentos felizes, as brincadeiras, as pequenas aventuras, as leituras que lhe moldam a personalidade e a descoberta de si próprio e dos outros, revelam um jovem sensível na forma de apreender, sentir e agir perante os desafios de uma sociedade que saía do obscurantismo da ditadura política, que subjugou os seus pais e avós, para a democracia e a liberdade.
Os romances de amor, esgotados pelos lugares comuns e pela desconstrução pós-moderna, caíram no ridículo e são um subgénero, ainda de grande procura, a que se dedicam alguns escritores de renome para equilibrar o seu parco orçamento. Tais romances têm por função entreter corações solitários nas horas que sobram do desfastio das conversas nas redes sociais com amantes virtuais. Vítor Pinheiro, escritor farto da concorrência desleal dos colegas de ofício lobificados pelos grande grupos editoriais e associações a que não pertence, decide desistir da escrita e, para compensar, passa a dedicar-se ao estudo de Homero, fonte das fontes da literatura ocidental. Sempre que a sorte o bafeja, qual Ulisses na ilha de Calipso, entrega-se aos prazeres da carne com amigas, conhecidas e até desconhecidas, num frenesim dionisíaco. Não sabe, a dada altura, se as mil mulheres com que se deita são fruto da sua imaginação delirante, se a experiência de uma realidade alternativa.
O Primeiro Instante é o quinto e último romance da série "Cenas da Vida Académica" iniciada com O Cavaleiro da Torre Inclinada (2009). Marco Túlio Ferreira, professor universitário, abandonado pela sua companheira, uma ex-freira que decide voltar para o convento, encontra-se novamente livre e envolve-se em mais uma série de aventuras amoras a que em vão tenta escapar. Macau e Florença são algumas das cidades que o protagonista visita e onde vive algumas dessas aventuras, quase sempre com um términus inusitado. Recebe inesperadamente de herança o velho casarão fradesco que pertencera à Dona Glorinha, a sua protetora da juventude. Aí decide instalar-se, retificando o rumo da sua vida, com a única mulher que nunca deixara de amar. Algumas pontas, porém, ficam soltas, deixando entrever que talvez não seja fácil para ele manter-se dentro do conto de fadas que tinha idealizado.
A Sagrada Família é a continuação de A Porca (2014), romance que faz parte da série de ficção de José Leon Machado iniciada com O Cavaleiro da Torre Inclinada (2009), cujo cenário é a vida académica. Nesta quarta parte, conta-se como Marco Túlio Ferreira, na adolescência, se apaixona pelos livros e se torna bibliotecário da Dona Glorinha, uma senhora brasileira proprietária de um velho casarão fradesco. Conta-se também a história do seu primeiro grande amor e de como o reencontra vinte anos mais tarde, de forma intensa e arrebatadora, a ponto de não conseguir pensar noutra mulher. Malgrado os escrúpulos, Marco Túlio mantém o velho hábito das aventuras de cama, em Portugal e no estrangeiro, umas prazerosas, algumas molestas e outras inconsequentes. Entre os apelos da líbido, o trabalho e os deveres familiares, Marco Túlio é levado a tomar o partido da família, princípio, meio e fim do acidentado périplo que a cada um cabe cumprir.
O padre da Gralheira aparece morto na cama em Dezembro de 1943. O sacristão chama o regedor, autoridade policial da freguesia, que toma conta da ocorrência. Este procede a uma série de averiguações que vão fazê-lo ponderar na hipótese de se tratar de um crime. Vem a saber que o clérigo tinha como amante uma mulher casada. O marido, um rico proprietário que frequentava amiúde um bordel, poderia tê-lo mandado matar por despeito.Tudo se complica, porém, quando o regedor descobre que o clérigo era receptador do volfrâmio roubado da mina explorada por uma companhia alemã e suspeita que o crime, se o houve, não fora cometido por questões de honra, mas por dinheiro. Entretanto, luzes estranhas vistas durante a noite adensam um mistério que vai sendo mal interpretado.Sobre a aldeia, retrato de um país atrasado e rude, paira a ameaça da guerra. A ela se devia a periclitante situação económica vivida pelos mais pobres, com o racionamento dos produtos essenciais, as requisições obrigatórias das colheitas pelo Grémio, a revolta das populações e a repressão do governo.A ex-amante do padre, carioca transplantada para os nevoeiros da Gralheira, dá um ar de graça à história, vivendo amores, incentivando-os e protegendo-os. É ela a verdadeira heroína, que contrapõe o amor à guerra e aos interesses mesquinhos dos homens. Este é um romance de mistério, onde afinal o único mistério, num confronto directo com a literatura da moda, é não haver mistério nenhum.
Na época das redes sociais, a escrita de um diário deixa de fazer sentido. A exposição pública (aos amigos e seguidores) do que fazemos, pensamos ou gostamos torna a diarística, em particular quando publicada em livro, redundante e inútil. É verdade que postar fotos, vídeos e desabafos numa rede social ou escrever uma entrada de um diário não são bem a mesma coisa. Mas o objetivo é o mesmo: um ato de narcisismo perante si próprio e os outros.
Marco Túlio Ferreira, professor numa universidade do norte do país, devido à pandemia causada pelo coronavírus, permanece confinado no velho palacete que herdara de uma brasileira rica, sua antiga protetora. Para ocupar a solidão e a monotonia das noites, aproveita para recordar os amores da juventude, que vai contando à Leonor, a sua atual namorada, também ela confinada em sua casa a alguns quilómetros de distância. Marco Túlio conta como teve a sua primeira experiência sexual de caloiro com uma colega doutora durante a praxe no Porto; ou de como, numas férias de verão numa aldeia de Trás-os-Montes, dormiu com duas irmãs, um delas solteira e outra recém-casada. A solidão do confinamento é de súbito interrompida com a chegada da Rafaela, sua ex-companheira, e da filha, que estavam em Timor. Novos desafios afetivos lhe são impostos, que ele procura acomodar aos seus desejos e interesses. O tom, entre o poético e o satírico tão próprios do autor, faz deste livro uma experiência de leitura amena e, em tempos de Covid-19, de esperança na vida e no amor.
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